sábado

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Eu não sou medrosa, acho eu. Perguntaram -me do que eu tinha medo, perguntam-me sempre isso. A minha resposta sempre foi a mesma: tenho medo de perder minha mãe, meus familiares, as pessoas que eu amo. Porque, essa é a verdade toda, nunca tive medo de ficar sozinha, de acordar no meio da noite e caminhar pela casa escura. Sempre gostei de um lugar mais calmo. Do escuro eu sei que não tenho medo. Fico assustada com pesadelos que parecem reais e que me acordam no meio da noite. Tenho pavor de crocodilos ou de qualquer bicho que habite de baixo de água. Mas, medo? Medo eu tenho é de me perder e nunca mais me encontrar. Medo de acordar e ver que as coisas viraram de cabeça para baixo sem que eu possa reorganiza-las. Tenho medo das pessoas que fingem que amam, que gostam e no outro dia já dizem que tanto faz e desapegam como se fosse aquela t-shirt que saiu da moda. Ah, tenho medo de trovões e relâmpagos, pareço uma criança assustada a vender um filme de terror quando tudo começa a trovejar. Tenho medo de pessoas que desejam mal aos outros, que esquecem de amar e de perdoar. Tenho medo de esquecer aquelas lembranças de infância que me fizeram feliz. Tenho medo de acabar sem ninguém. Tenho medo de coisas barulhentas e de silêncio prolongado demais. Tenho medo de ferir alguém com alguma palavra e por descuido esquecer de pedir desculpa. Tenho medo de ir, correr demais e não saber voltar. Tenho medo de percorrer a estrada da vida sozinha, numa noite nublada e sombria. Eu tenho medo das coisas que acabam rápido demais, dos pensamentos nebulosos das pessoas. Mas, o que eu mais tenho medo, é das coisas que calam, somem e mudam para sempre.

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